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Cinema Latino

terça-feira, 19 de junho de 2012

Uma perda do cinema nacional

Obra do cineasta Carlos Reichenbach enfrentou a censura e tratou de temas polêmicos

O cinema do diretor paulista nasce na passagem dos anos 1960 para os 70, sob o signo da mescla de experimentação estética, política e cultura pop que marcam o período

Walter Sebastião - EM Cultura
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Júlio Cordeiro/AE
Carlos Reichenbach, em mais de 40 anos de carreira, mesclou experimentalismo com linguagem popular
“Perdemos o cineasta da invenção, da independência, que fazia cinema sem pedir bênção à política estatal”, afirma o cineasta mineiro Geraldo Veloso referindo-se ao diretor Carlos Reichenbach, que morreu ontem, em São Paulo, aos 67 anos, de parada cardíaca. Carlão, como era conhecido no meio, nasceu em Porto Alegre e com um ano foi morar em São Paulo. Estudou na Escola Superior de Cinema São Luiz, onde foi aluno de Luís Sérgio Person. Realizou, ao longo de 40 anos de atividade, 22 longas-metragens, construindo carreira respeitada e original. A estreia foi com o episódio “Alice”, de As libertinas (1968), e o último trabalho foi Falsa loura (2007). Entre um e outro, várias obras-primas, como Lilian M, Anjos do arrabalde, Amor palavra prostituta, Filme demência, Dois córegos e Alma corsária, entre outros. Observações de pessoas comuns enredadas em ambições, sonhos e sentimentos conflitantes.

“Carlos Reichenbach foi um homem generoso, amigo, íntegro e culto. Foi um grande cineasta. Talvez um dos maiores que o Brasil já teve”, afirma, emocionada, a produtora Sara Silveira, sócia de Carlos Reichenbach, com quem trabalhava desde 1991. “Os filmes dele têm empolgação, a loucura de roteiros incomuns e a genialidade de quem faz cinema com paixão e cultura. São histórias que, despreocupadamente, mostram o que o Brasil é, como ele dizia, para os brasileiros”, observa. “Carlos Reichenbach fala das coisas de forma honesta, clara, com grandiosidade”, completa. Para quem não conhece o diretor, ela recomenda os longas Filme demência, Alma corsária e Dois córregos. “São filmes inteligentes, com autoria, que têm a mão de Reichenbach”, justifica.

Independente 

O cinema do diretor paulista nasce na passagem dos anos 1960 para os 70, sob o signo da mescla de experimentação estética, política e cultura pop que marcam o período. Dialoga com o tropicalismo, mas sem transformar o contexto brasileiro em algo exótico. Momento em que devido à censura da ditadura militar vai se afirmar como cinema independente, de baixo orçamento. O cineasta procura ainda ressignificar estéticas populares, como o cinema erótico (vem daí a associação com a Boca do Lixo, região do Centro de São Paulo onde se aglutinavam produtoras de pornochanchadas). A partir dos anos 1980, o diretor constrói, metodicamente, corrosivas visões do mundo urbano, que são também meditações existenciais, sociológicas e memorialísticas.

Reichenbach mistura, de forma bem-sucedida e promiscuamente, todos os gêneros cinematográficos, retirando pérolas de todos eles – mesmo dos mais comerciais. Os filmes do diretor somam de forma insólita entretenimento com cultura cinematográfica (ele foi cinéfilo; dizia ter visto, desde os 15 anos, 3 mil filmes), filosofia e literatura. Tudo apresentado sem pedantismo, com narrativas simples e visualidade que articula o prosaico e o precioso.
Aspectos potentes nas obras do diretor vêm de características que são do temperamento de Reichenbach: delicadeza irrestrita no trato com o humano, o ímpeto libertário e antimachismo que fez com que ele já fosse considerado o mais feminino dos cineastas. Carlos Reichenbach deixou filmes desconcertantemente geniais, que precisam ser revistos com atenção pelo público, pela crítica e pelos novos cineastas.
Fonte: Cinema Uai

Um comentário:

  1. Adoro os filmes de Carlos Reichenbach, mas acho que ele viu até poucos filmes... Eu desde os 15 anos até hoje, 17 anos depois, já vi mais de 4.500...

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