29/04/2012 03h33 - Roberto Guerra, enviado especial a Pernambuco, do Cineclick
Foto: Clara Gouvêa
Fernando Meirelles: homenageado no Cine PE e triste com a realidade brasileira
Neste sábado (28/4), o Cine PE - Festival do Audiovisual rendeu homenagem a Fernando Meirelles, diretor de Cidade de Deus e um dos nomes mais conscientes do cinema nacional na atualidade. Meirelles subiu ao palco com sua típica simpatia e simplicidade e agradeceu ao troféu Calunga dizendo que continua na ativa. "Quando a gente faz um filme, ganha prêmios. Quando a gente começa a ser homenageado é porque estão nos colocando na prateleira. Eu quero dizer que tenho muitas ideias ainda aqui na cabeça e vou fazer muita coisa" , disse o cineasta para um Teatro Guararapes que o aplaudiu de pé.
O que poucos sabem é que Meirelles, um dia antes, conversou com o Cineclick e revelou uma triste notícia para o público de cinema brasileiro: “Eu estou puxando o breque-de-mão”. Foi com essa frase que anunciou à nossa reportagem, em primeira mão, que estava desistindo de rodar seu próximo longa nacional depois de Cidade de Deus.
A decisão drástica veio depois da péssima recepção da audiência ao filme Xingu, que produziu com direção de Cao Hamburger. O público de pouco mais de 200 mil espectadores do filme funcionou como um balde d’água no projeto do diretor de levar às telas a adaptação de Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa. O filme que acabou de ser engavetado por Meirelles teria roteiro de Braulio Mantovani e Wagner Moura como protagonista.
“Eu fiquei tão derrubado com o que aconteceu com Xingu. Mais derrubado de qualquer filme meu que possa ter dado errado. Daí, pensei: ‘Eu vou ficar um ano e meio envolvido nesse projeto, gravando debaixo do sol do cerrado para depois o filme fazer 200 mil espectadores? Por isso reconsiderei”, confessa, decepcionado, Meirelles.
Para o diretor, além do desinteresse do grande público por determinados assuntos o cinema nacional vive o momento das comédias. “Nós temos uma classe C nova que não ia ao cinema antes e esse pessoal é formado no audiovisual pela TV. Então hoje a gente vive uma realidade de filmes que poderiam estar na TV e estão nas telas”.
Para ele, isso tem um lado bom porque está ajudando a formar um novo público, mas, por outro lado, condiciona as produções que buscam o grande público a uma estética televisiva. “Você faz um esforço enorme e as pessoas não estão interessadas. O cara não quer saber de índio, de sustentabilidade. Ele quer essas comédias com as mesmas caras da TV e isso eu não vou fazer”, desabafa.
A experiência de Xingu levou Meirelles a desistir de rodar um filme no país e também o fez optar por campanhas de marketing paralelas para o lançamentos de seus filmes feitos no Exterior. “Não tem esse negócio do fazer um lançamento para o Brasil, porque existem dois Brasis. Tem de lançar para o cara do bairro de elite e para o da periferia. Tem que fazer tudo diferente, uma campanha diferente, outro trailer, outro pôster. A ideia é fisgar esse público que gostaria do filme se visse, mas não se estimula a ver”.
A decisão de Meirelles é sustentada por números de mercado. Xingu teve ampla cobertura da imprensa, avaliação positiva da crítica especializada e ainda assim levou pouco mais de 200 mil pessoas aos cinemas. Dados apresentados pelo diretor mostram duas realidades: enquanto em salas de bairros nobres de São Paulo o filme teve ótima média de público, na periferia da cidade as salas ficaram praticamente vazia nos fins de semana.
"Se eu pudesse começar de novo a campanha de Xingu eu mudaria tudo. Ia vender um filme de ação para esse público da classe C. Nem ia falar que é histórico, que se passa na década de 50. O cara ia entrar no cinema achando que era um filme contemporâneo”, avalia.
O diretor vai dar início à estratégia de campanhas de divulgação paralelas com 360, coprodução Inglaterra, França, Áustria e Brasil que chega às telas de cinema em 17 de agosto. Em setembro começa a rodar outra produção internacional: Nemesis, adaptado do livro homônimo de Peter Evans que será roteirizado por Braulio Mantovani.
Para a fatia do público que gostaria de ver o diretor de Cidade de Deus de volta ao comando de um filme genuinamente nacional, o jeito é esperar. As palavras de Meirelles ao final da entrevista talvez sinalizem que não vai demorar tanto assim: “Ainda continuo sendo um eterno otimista com o cinema nacional”.
Foto: Clara Gouvêa
Fernando Meirelles: homenageado no Cine PE e triste com a realidade brasileira
Neste sábado (28/4), o Cine PE - Festival do Audiovisual rendeu homenagem a Fernando Meirelles, diretor de Cidade de Deus e um dos nomes mais conscientes do cinema nacional na atualidade. Meirelles subiu ao palco com sua típica simpatia e simplicidade e agradeceu ao troféu Calunga dizendo que continua na ativa. "Quando a gente faz um filme, ganha prêmios. Quando a gente começa a ser homenageado é porque estão nos colocando na prateleira. Eu quero dizer que tenho muitas ideias ainda aqui na cabeça e vou fazer muita coisa" , disse o cineasta para um Teatro Guararapes que o aplaudiu de pé.
O que poucos sabem é que Meirelles, um dia antes, conversou com o Cineclick e revelou uma triste notícia para o público de cinema brasileiro: “Eu estou puxando o breque-de-mão”. Foi com essa frase que anunciou à nossa reportagem, em primeira mão, que estava desistindo de rodar seu próximo longa nacional depois de Cidade de Deus.
A decisão drástica veio depois da péssima recepção da audiência ao filme Xingu, que produziu com direção de Cao Hamburger. O público de pouco mais de 200 mil espectadores do filme funcionou como um balde d’água no projeto do diretor de levar às telas a adaptação de Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa. O filme que acabou de ser engavetado por Meirelles teria roteiro de Braulio Mantovani e Wagner Moura como protagonista.
“Eu fiquei tão derrubado com o que aconteceu com Xingu. Mais derrubado de qualquer filme meu que possa ter dado errado. Daí, pensei: ‘Eu vou ficar um ano e meio envolvido nesse projeto, gravando debaixo do sol do cerrado para depois o filme fazer 200 mil espectadores? Por isso reconsiderei”, confessa, decepcionado, Meirelles.
Para o diretor, além do desinteresse do grande público por determinados assuntos o cinema nacional vive o momento das comédias. “Nós temos uma classe C nova que não ia ao cinema antes e esse pessoal é formado no audiovisual pela TV. Então hoje a gente vive uma realidade de filmes que poderiam estar na TV e estão nas telas”.
Para ele, isso tem um lado bom porque está ajudando a formar um novo público, mas, por outro lado, condiciona as produções que buscam o grande público a uma estética televisiva. “Você faz um esforço enorme e as pessoas não estão interessadas. O cara não quer saber de índio, de sustentabilidade. Ele quer essas comédias com as mesmas caras da TV e isso eu não vou fazer”, desabafa.
A experiência de Xingu levou Meirelles a desistir de rodar um filme no país e também o fez optar por campanhas de marketing paralelas para o lançamentos de seus filmes feitos no Exterior. “Não tem esse negócio do fazer um lançamento para o Brasil, porque existem dois Brasis. Tem de lançar para o cara do bairro de elite e para o da periferia. Tem que fazer tudo diferente, uma campanha diferente, outro trailer, outro pôster. A ideia é fisgar esse público que gostaria do filme se visse, mas não se estimula a ver”.
A decisão de Meirelles é sustentada por números de mercado. Xingu teve ampla cobertura da imprensa, avaliação positiva da crítica especializada e ainda assim levou pouco mais de 200 mil pessoas aos cinemas. Dados apresentados pelo diretor mostram duas realidades: enquanto em salas de bairros nobres de São Paulo o filme teve ótima média de público, na periferia da cidade as salas ficaram praticamente vazia nos fins de semana.
"Se eu pudesse começar de novo a campanha de Xingu eu mudaria tudo. Ia vender um filme de ação para esse público da classe C. Nem ia falar que é histórico, que se passa na década de 50. O cara ia entrar no cinema achando que era um filme contemporâneo”, avalia.
O diretor vai dar início à estratégia de campanhas de divulgação paralelas com 360, coprodução Inglaterra, França, Áustria e Brasil que chega às telas de cinema em 17 de agosto. Em setembro começa a rodar outra produção internacional: Nemesis, adaptado do livro homônimo de Peter Evans que será roteirizado por Braulio Mantovani.
Para a fatia do público que gostaria de ver o diretor de Cidade de Deus de volta ao comando de um filme genuinamente nacional, o jeito é esperar. As palavras de Meirelles ao final da entrevista talvez sinalizem que não vai demorar tanto assim: “Ainda continuo sendo um eterno otimista com o cinema nacional”.
Fonte: Cine Yahoo
Realmente é lamentável e muito verdadeiro o desabafo de Meirelles. O público brasileiro, (assim como na verdade o público em geral) não sabe apreciar mais um filme por sua qualidade ou essência, hoje os "cine pipoca" ou filmes destinados a adolescentes e crianças predominam, sem falar das besteiras apelativas consideradas como comédias. É triste de assumir mas o cinema em si desde metade da década passada vem sucumbindo,a prova disso são os diversos relançamentos que retornam as telonas, quando anteriormente aconteceu isso? Mas enfim, bola pra frente, ainda bem que inventaram as fitas de video, DVD´s, Blue Rays que nos garantem a liberdade de poder escolher o bom e verdadeiro entretenimento.
ResponderExcluirÉ verdade Jefferson Clayton! Ainda bem que podemos escolher os bons filmes!
ResponderExcluirUma triste notícia, essa de Fernando Meirelles não querer filmar aqui no Brasil. Realmente o público parece meio desinteressado com nossos filmes. Os únicos que conseguem fazer sucesso são aqueles produzidos pela Globo Filmes ou de apelo popular...
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