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Cinema Latino

terça-feira, 10 de março de 2009

O labirinto do fauno (2006)

Apenas um comentário emocionado

«Era uma vez uma princesa que vivia num reino subterrâneo e sonhava com conhecer o mundo dos humanos. Um dia fugiu, e ao chegar à superfície, o sol cegou-a. Com a vista foram-se também embora todo o passado e todas as lembranças que possuía. Mais tarde, o corpo da princesa não resistiu ao calor e ao frio e morreu. Mas seu pai, o rei, sabia que a alma da filha regressaria noutro corpo, noutro tempo, mas regressaria, e ele esperá-la-ia…».
É assim que começa a narrativa de um dos mais belos e singelos contos de fadas que o cinema já produziu. Claro, não vamos nos esquecer do clássico “O Mágico de Oz” (1939) que sem os recursos tecnológicos que temos atualmente trouxe o talento e as presenças marcantes de Judy Garland, Frank Morgan, Ray Bolger, Bert Lahr e outros, um trabalho de arte magnífico, muito avançado para a época e uma narrativa mágica, de sonhos. Não podemos esquecer dos arrasa-quarteirões “O Senhor dos Anéis”, os “Harry Potters” da vida, “As Crônicas de Nárnia” (2005), “A Bússola de Ouro” (2007), etc. Mas O Labirinto do Fauno está mais para Mágico de Oz que para estes últimos, devido à simplicidade e a leveza de suas alegorias. Claro, que os recursos de maquiagem e a tecnologia foram primorosos em O Labirinto... mas a história que contou era muito mais simples e harmoniosa que a dos blockbusters mencionados, daí a comparação com o clássico de 1939 que revelava o talento da adolescente Judy Garland (Doroty), que na época contava com 17 anos. O que não podemos comparar com o desempenho da ultra-jovem atriz espanhola Ivana Baquero (Ofélia) de então 11 anos na época das filmagens. Curiosidades à parte Ivana também não tem em O Labirinto do Fauno a sua estréia no cinema, já é o seu sexto filme em sua precoce carreira. Mas sem dúvida esta será a personagem que a tornou inesquecível.

O mundo de Ofélia, a menina do Labirinto, não é de sonhos, ao menos o seu mundo real é o mais tirano possível. Aliás, ela sobrevive não se sabe como em um ambiente onde o ódio e a intolerância estão personificados no Capitão Vidal, o homem com o qual sua mãe casou. Carmen uma mulher frágil que espera um filho de um déspota. Uma mulher que se nega a si mesma por submeter-se ao marido por pura e simplesmente ter em seus pensamentos a idéia de dar um futuro melhor a seus filhos, mas que é claramente infeliz.
Ofélia é uma criança pura, cujo conceito de felicidade é os seus livros de Contos de Fadas, a sua mãe e o irmãozinho que estar por vir. Ela segue uma pequena libélula encantada e chega a um labirinto, que no mundo real existe, mas tudo o que acontece com a menina em seu universo encantado nos faz compreender o teor do filme, e a intenção do diretor em contar uma história que de fato existiu de verdade e que manchou de sangue um país, A Guerra Civil Espanhola. Mas e o labirinto? E a fantasia? Em algumas partes do filme se compreende que a fantasia faz parte dos pensamentos da menina, afinal ela é uma exímia leitora de Contos de Fadas e que no fim para não viver uma história realmente triste, ela se insere neste mundo fantástico onde há um fauno, seres alados e o mal soberano em uma mesa farta na imagem de um homem horripilantemente pálido, de olhos nas mãos e cheio de pelancas.


Particularmente é um filme muito criativo ao explorar o mundo real de um lado e todas as suas crueldades, de outro, o fantástico. Guillermo del Toro foi o mais fascinante possível neste filme,a ousadia ao contar uma história, aliás duas ficcionais (o conto de fadas a história de uma menina e sua família) e outra não ficcional de caráter histórico foi sua grande aposta. Um filme como este não poderia jamais ficar invisível aos olhos da academia, principalmente no quis diz respeito à direção de arte (assinada por Eugenio Caballero), categoria em que foi premiado, e melhor maquiagem que foram entregues a David Marti e Montse Ribe.
Teria muitas coisas para comentar aqui, mas acredito que não haveria espaço para tanto. A direção de arte é fantástica. Doug Jones interpretando simultaneamente o Fauno e o Homem Pálido realmente impressionou. E o que dizer dos detalhes do local onde fica o banquete do Homem Pálido?! O artista plástico que pintou os afrescos fez um trabalho espantoso, o que não se vê em todos os detalhes quando a câmera passeia por eles simulando o olhar da menina Ofélia. Quem locar este filme, terá a oportunidade de ver o Making Of e as entrevistas com os atores que é formidável, além das montagens daquelas roupas tão perfeitas, a do Fauno e a do monstro pelancudo.


Adorei rever as atrizes espanholas que já conheço, atuando neste filme, a Maribel Verdú como a Mercedes, a personagem mais forte de toda a história e a Ariadna Gil, como a Carmen, a submissa mãe de Ofélia.
A atriz Ivana Baquero (Ofélia) realmente consegue cativar e emocionar. Atuação brilhante também a do ator Sergi López como o Capitão Vidal, ele encarnou um verdadeiro Hitler. A personagem mais cruel de todas que utiliza de doentios instrumentos de torturas como alicates e martelos, que são golpeados no rosto de seus inimigos quando não lhe informam o que deseja saber. O seu requinte de crueldade além de viciosamente maligno, chega a ser estúpido, pois enquanto sua esposa sofria com as dores de um parto que em seguida lhe levaria a vida, ele assassinava alguém que poderia sim, ajudá-la no momento de sua agonia, o médico. O miserável descobre que o médico que tem sempre ao alcance de sua mão é o informante dos vermelhos e movido pelo ódio o mata. Quem assiste torce por um final infeliz para o Capitão Vidal, pois o satanás no inferno perde para ele. O momento mais festejado são os golpes de faca que ele recebe de Mercedes, principalmente quando ela lhe rasga a boca, uma cena muito bem feita. Todas em que mostravam todos os tipos de ferimentos e golpes a serem desferidos davam um ar de veracidade impressionantes. A cena em que ele costura o ferimento e coloca um tampão é perfeita então, ele toma um conhaque, sente a ferida do rosto doer e o sangue empapa o curativo. Me impressionou saber todo o recurso tecnológico utilizado, até os estampidos dos tiros foram feitos no computador. E mais dolorido ainda é ver ele matando a enteada Ofélia. A menina que morreu sacrificando sua própria vida em nome de outro inocente. A imagem que aparece no início do filme a de uma menina ensangüentada, aparece também no final. No início sabemos o que aconteceu com ela, mas não sabemos o fato que motivou alguém a tirar-lhe a vida e o seu ato heróico devidamente recompensado em um reino que de fato não é deste mundo. Vale à pena ver. E assim termina:
«E a princesa reinou com justiça e bondade por muitos e muitos séculos. E a presença dela continua, mas só para os que sabem olhar…»


Ficha Técnica:
Título Original: El Laberinto del Fauno
Gênero: Suspense
Tempo de Duração: 112 minutos
Ano de Lançamento (México / Espanha / EUA): 2006
Site Oficial: www.panslabyrinth.com
Estúdio: Warner Bros. Pictures / Telecinco / Estudios Piccaso / Tequila Gang / Esperanto Filmoj / OMM / Sententia Entertainment
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro
Produção: Álvaro Augustín, Alfonso Cuarón, Bertha Navarro, Guillermo del Toro e Frida Torresblanco
Música: Javier Navarrete
Fotografia: Guillermo Navarro
Desenho de Produção: Eugenio Caballero
Figurino: Lala Huete e Rocío Redondo
Edição: Bernat Vilaplana
Efeitos Especiais: CafeFX
Elenco:
Ivana Baquero (Ofelia)
Doug Jones (Fauno / Homem pálido)
Sergi López (Capitão Vidal)
Ariadna Gil (Carmen)
Maribel Verdú (Mercedes)
Álex Angulo (Médico)
Roger Casamajor (Pedro)
César Vea (Serrano)
Federico Luppi (Casares)
Manolo Solo (Garcés)

Um comentário:

  1. M., mais um dos meus filmes favoritos na vida!
    Uma fábula um tanto triste, mas bela, tocante e quantas imagens!
    Que bom que está gostando do purpurina de rua, tenho muito carinho por este espaço e tento colocar todos os meus pedaços por lá!
    Você é de onde?
    Um grande abraço,
    Luciana

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