

O filme foi realizado com a esperança de contribuir para um revolucionário choque na sociedade. “Pela primeira vez na história do cinema”, escreveu o crítico Aldo Kyrou, “um diretor trata não de agradar, mas de alienar praticamente todos os potenciais espectadores”. Isso foi naquela época, mas não hoje. Atualmente, as suas técnicas foram tão vigorosamente absorvidas, mesmo pelas correntes dominantes, que o seu valor de choque acabou por se diluir – exceto aquela imagem do globo ocular sendo cortado, ou talvez a imagem do homem que lentamente arrasta o grande piano com os sacerdotes e os burros mortos sobre ele...

Foi então passar alguns dias com Dalí, um conterrâneo espanhol, e falou-lhe a respeito de um sonho seu, no qual uma nuvem corta a lua no meio, “como uma navalha cortando um globo ocular”. Dalí lhe contou então seu próprio sonho, no qual uma mão brincava com as formigas. “E que tal se nós começássemos bem ali e fizéssemos um filme?”, perguntou ele a Buñuel, e assim o fizeram. Juntos, preparam o roteiro, que foi dirigido por Buñuel e que, com a ajuda orçamentária da mãe dele, precisou de poucos dias para ser realizado.

Para a montagem do roteiro, usavam o método de atirar imagens chocantes umas contras as outras, ou um evento contra o outro. Ambos tinham que concordar antes que uma imagem fosse incluída no filme: “Nenhuma idéia ou imagem que pudesse sugerir uma explicação racional, de qualquer tipo, seria aceita”, lembra Buñuel. “Tínhamos que abrir todas as portas do irracional e ficar somente com as imagens que nos surpreendiam, sem explicar a razão”.
(...) Um cão andaluz é uma peça curta: num certo sentido, nunca foi infiel conosco. Um filme deste tipo é um fortificante. Atropela velhos e inconscientes hábitos dos cinéfilos. É perturbador, frustrante e endoidante. Parece não ter qualquer objetivo (todavia, que objetivos há na verdade, em tantos filmes a que assistimos?). Há um retorcido humor e uma vontade bem clara de nos ofender. A maioria do público de hoje se ofende, o que talvez signifique que os surrealistas levaram a sua revolução à vitória: eles mostraram que a arte (e a vida) não precisa obedecer cegamente às estreitas restrições que vigoraram desde tempos imemoriais. E que num filme que está vivo e não petrificado pelas convenções, você nunca sabe o que pode ver quando for olhar pela janela”
Bibliografia:
EBERT, Roger. A Magia do Cinema. Os 100 melhores filmes de todos os tempos analisados pelo único crítico ganhador do Prêmio Pulitzer. Ediouro.
Abaixo (trechos do curta) - para vê-lo completo só no Youtube:
Interessantíssimo!
ResponderExcluirConhecia apenas o título e pela descrição, pareceu-me muito nonsense mesmo! vou procurar com certeza.
Achei curioso quando diz que embora este titulo não tenha um objetivo em si, quais outros filmes o possuem? é algo de realmente se pensar.
abraços
Para quem nunca assistiu ao filme, ele está por completo no Youtube. Acho que vale muito a pena a obra tornar-se conhecida do publico jovem de hoje, pois Cão Andaluz é a assinatura do surrealismo na cinema.
ResponderExcluirValeu Júnia por lembrar! Inclusive eu deveria até ter postado o vídeo.
ResponderExcluirAin M. eu só conhecia o títutlo e essa famosa imagem da mulher com esse olho aberto! rs
ResponderExcluirMas até o final de semana, verei ele no youtube!
Eu tenho que ver issso!
UHASUHAHSUA'
Abs =)