Cinema Latino

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Saiu na Folha de São Paulo


Eduardo Coutinho deixou inacabado filme sobre adolescentes

GUILHERME GENESTRETI
JULIANA GRAGNANI
DE SÃO PAULO

04/02/2014  03h00


O cineasta Eduardo Coutinho, morto anteontem, aos 80, deixou um último trabalho inacabado: o documentário "Palavra", sobre o universo dos adolescentes, que estava em pós-produção. O diretor, assassinado pelo filho a facadas, segundo a polícia, seria enterrado ontem.

No projeto filmado entre novembro e dezembro, Coutinho entrevistou cerca de 30 alunos do ensino médio da rede pública carioca.

"Coutinho sentava para conversar com os garotos e dizia: 'Quero ser como um marciano que faz perguntas absurdas, como se não soubesse nada do mundo'", diz Jordana Berg, montadora de seus últimos longas e à frente da edição de "Palavra".

A tática do cineasta, afirma Jordana, era fazer "perguntas que pareceriam infantis" como "para que serve o dinheiro?" e "por que você estuda?". Ele deixava, como era comum em seus trabalhos, que os personagens falassem à vontade.

Para ser lançado, o filme ainda depende do aval do também documentarista e João Moreira Salles, sócio da VideoFilmes, produtora do documentário. Procurado pela Folha, o produtor não quis comentar o assunto.

Coutinho deixou com Jordana a listagem de tudo o que foi gravado, com algumas anotações sobre o que deveria ser descartado e o que gostaria que fosse aproveitado.

Em uma das marcações na decupagem, o cineasta pedia para excluírem o trecho em que ele dizia a um dos entrevistados que o filme "provavelmente não daria certo".

"Liguei para ele na sexta-feira e disse: 'Mas como jogar isso fora?' Propus que começássemos o filme com isso. Ele concordou", diz Jordana.


HOMENAGEM

Coutinho se preparava, ainda, para rodar um média-metragem para o projeto "Memória do Esporte Olímpico", em parceria com o canal ESPN. A obra trataria de Luisão, massagista que acompanhou a delegação brasileira nos últimos cinco Jogos Olímpicos.

Agora, Coutinho ganhará uma mostra organizada pela Cinemateca, prevista para março, com debates e curadoria do crítico Ismail Xavier.

A Cinemateca restaurou o documentário que deu fama a Coutinho: "Cabra Marcado para Morrer" (1985). O DVD deve ser lançado em março pelo Instituto Moreira Salles.

Na última quinta, o diretor esteve com Moreira Salles, José Carlos Avellar, Carlos Alberto Mattos e Eduardo Escorel, em um estúdio no Rio. Juntos, assistiram a "Cabra". Coutinho fez comentários sobre as cenas do filme que devem entrar nos extras do DVD.

Mattos conta que, no ano passado, Coutinho revisitou os personagens de "Cabra", para um especial que também deve entrar no lançamento. "Ele estava profundamente tocado por isso", diz.


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