Cinema Latino

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Antônio Abujamra




Antônio Abujamra nasceu na cidade de Ourinhos, no estado de São Paulo, no ano de 1932. É Ator e Diretor de Teatro, TV e cinema. Um dos primeiros a introduzir os princípios e métodos teatrais de Bertolt Brecht, Roger Planchon e outros mestres da contemporaneidade em palcos brasileiros. Participa da revolução cênica efetivada nos anos 1960 e 1970, caracterizando seu trabalho pela ousadia, inventividade e espírito provocativo. Nos anos 1980 e 1990, desenvolve espetáculos em que crítica e lúdico se fundem num ceticismo bem-humorado, que é o eixo de sua personalidade.

Forma-se em filosofia e jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC/RS, Porto Alegre, em 1957. Inicia-se como crítico teatral e, paralelamente, faz suas primeiras incursões como ator e diretor no Teatro Universitário, entre 1955 e 1958, nas montagens: O Marinheiro, de Fernando Pessoa, À Margem da Vida e O Caso das Petúnias, de Tennessee Williams, A Cantora Careca e A Lição, de Eugène Ionesco, e Woyzeck, de Georg Büchner.

Viaja à Europa em 1959 como bolsista, estudando língua e literatura espanholas, em Madri. Faz estágio em Villeurbanne, na França, com o diretor Roger Planchon, acompanhando as montagens Henrique IV, de William Shakespeare, e Almas Mortas, de Nicolas Gogol; e com Jean Villar, em A Resistível Ascensão de Arturu Ui, de Bertolt Brecht, no Théâtre National Populaire, TNP, em Paris. Estagia também no Berliner Ensemble, em Berlim.

Abujamra retorna em 1961, e estréia profissionalmente, em São Paulo, no Teatro Cacilda Becker – TCB, onde dirige Raízes, de Arnold Wesker, e no Teatro Oficina, com José, do Parto à Sepultura, de Augusto Boal. Antígone América, de Carlos Henrique Escobar, 1962, é a primeira de uma série de montagens que dirige para a produtora Ruth Escobar.

Em 1963, associa-se a Antônio Ghigonetto e Emílio Di Biasi, e funda o Grupo Decisão, com a intenção de disseminar o teatro político com base na técnica brechtiana. A primeira produção é Sorocaba, Senhor, uma adaptação de Fuenteovejuna, de Lope de Vega. Ainda em 1963, estréiam Terror e Miséria no III Reich e Os Fuzis da Sra. Carrar, ambos de Brecht, levando aos bairros periféricos de São Paulo um repertório voltado para a mobilização política e a discussão da realidade nacional. Em 1964 o grupo monta O Inoportuno, de Harold Pinter, seu primeiro sucesso, e transfere-se para o Rio de Janeiro, onde a peça chama a atenção, abrindo portas para seus realizadores.

Em 1965, Electra, de Sófocles, aumenta o prestígio do grupo e a encenação é apreciada pela crítica e pelo público, tendo como protagonista a atriz Glauce Rocha. Segundo o crítico Yan Michalski, as encenações de Abujamra são, nessa época, subversivas e apaixonadas. Segundo ele, “sem ter um perfil ideológico ou estético tão definido quanto o do Teatro de Arena ou do Oficina, por exemplo, o Grupo Decisão chegou, por momentos, a ter uma importância quase comparável à desses dois destacados conjuntos, graças, principalmente, à personalidade artística de Abujamra, artista inquieto e eclético, capaz de criar para cada uma dessas peças uma concepção cênica polêmica, mas sempre marcada por uma linguagem de uma radical modernidade, influenciada pela experiência européia do diretor”.

Abujamra dirige, no Rio de Janeiro, a montagem de O Berço do Herói, de Dias Gomes, em 1965, interditada pela censura no dia do ensaio geral. Em 1967, lança o dramaturgo Bráulio Pedroso, com a montagem de O Fardão. Nos anos seguintes, dedica-se ao Teatro Livre, empresa de Nicette Bruno e Paulo Goulart realizando montagens ambiciosas, como Os Últimos, de Máximo Gorki, 1968, ou As Criadas, de Jean Genet, 1968, e produções de âmbito comercial, algumas com grande êxito de bilheteria. Dirige O Cão Siamês ou Alzira Power, 1970, e Longe Daqui, Aqui Mesmo, 1972, ambas as peças de autoria de Antônio Bivar. Em 1975, a censura proíbe a estréia de Abajur Lilás, de Plínio Marcos. No mesmo ano, aliando-se ao teatro de resistência, dirige Antônio Fagundes no monólogo Muro de Arrimo, de Carlos Queiroz Telles, paradoxo entre as duras condições de vida de um operário da construção civil e suas ilusórias expectativas de um futuro brilhante, e recebe o Prêmio Molière, pela direção de Roda Cor de Roda, de Leilah Assumpção. Em 1980, retoma a parceria com Nicette Bruno e Paulo Goulart dirigindo Dona Rosita, a Solteira, de Federico García Lorca.

Na primeira metade dos anos 1980, Abujamra se engaja no projeto de recuperar artisticamente o Teatro Brasileiro de Comédia – TBC. Inaugura novas salas e implanta um movimento que faz vir à luz alguns novos autores e diretores. Entre seus espetáculos mais significativos no TBC estão: Os Órfãos de Jânio, de Millôr Fernandes, 1981; Hamletto, de Giovanni Testori, 1981 (peça que ele dirigirá mais duas vezes: no próprio TBC, 1984, e em Nova York, para o Theatre for the New City, 1986); Morte Acidental de um Anarquista, de Dario Fo, 1982; e A Serpente, de Nelson Rodrigues, 1984. Um dos maiores sucessos de sua carreira, Um Orgasmo Adulto Escapa do Zoológico, de Dario Fo, 1984, traz um solo virtuosístico que projeta a atriz Denise Stoklos para uma carreira internacional e é aplaudido em vários festivais fora do Brasil.

Em 1987, encerrado o projeto do TBC, Abujamra dirige, para a Companhia Estável de Repertório – CER, de Antonio Fagundes, a superprodução Nostradamus, de Doc Comparato, grande êxito de bilheteria.

Aos 55 anos de idade, Abujamra inicia sua carreira de ator. Em dois anos, atua em duas telenovelas e três peças e é premiado pelo desempenho no monólogo O Contrabaixo, de Patrick Suskind, 1987. No ano seguinte, encena mais uma colaboração com Nicette Bruno e Paulo Goulart, À Margem da Vida, de Tennessee Williams.

Em 1991, recebe o Prêmio Molière pela direção de Um Certo Hamlet, espetáculo de estréia da companhia Os Fodidos Privilegiados, fundada por Abujamra para ocupar o Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro.

O crítico Macksen Luiz, alega, a respeito do espetáculo, que o deboche vulgar nas mãos de Abujamra torna-se algo paradoxal, algo como um “morde assopra”, suscitando reações adversas na platéia: “(…) Antônio Abujamra faz questão de chocar, de provocar reações pelo exagero. Não tem qualquer pudor em ser vulgar até o limite da banalidade. O deboche é alçado como linguagem, o que em mãos menos experientes poderia redundar apenas em gratuidade e agressão. Tanto um quanto outro estão presentes em Um Certo Hamlet, mas a personalidade teatral de Abujamra parece justificar esses aspectos através de formato cênico tradicional. (…) Abujamra, como bom frasista, não perde a oportunidade de provocar. É dele a definição de que Um Certo Hamlet é ‘profano, perverso e ultrajantemente engraçado’. Todos esses adjetivos funcionam para o bem e para o mal na sua montagem. A preocupação em ampliar cada um deles até o exagero, faz com que, muitas vezes, o diretor caia na mera vulgaridade. A provocação se transforma em efeito. Tudo se combina para que o espectador não tenha dúvidas sobre de quem (ou contra o que) o espetáculo trata. Shakespeare não está ausente: é o substrato da encenação. Popularizado, subvertido, pulverizado, Hamlet emerge numa leitura pessoal, que provoca repulsa ou adesão. Não há meios tons possíveis. Ao aceitar a chave de Antônio Abujamra, o espetáculo flui com algumas surpresas e com um namoro firme com o melhor do estilo besteirol. A mistura não chega a ser tão explosiva quanto parece desejar o diretor, mas se legitima no fundamento teatral do diretor”.

À frente de Os Fodidos Privilegiados, Abujamra dirige regularmente espetáculos na década de 1990, dividindo mais tarde essa tarefa com João Fonseca. Com o grupo, ganha o Prêmio Shell de melhor direção de 1998, numa adaptação do romance O Casamento, de Nelson Rodrigues.

Abujamra trabalha também, ativamente, como diretor e ator de televisão, em novelas, especiais, programas educativos e teleteatros, e em 2000 inicia um programa de entrevistas na TV Cultura, Provocações.

Num programa de espetáculo, a crítica Maria Lúcia Pereira descreve os métodos e estilos do diretor: “Sou chamada pelo sonhador enlouquecido Antônio Abujamra para escrever o diário de encenação do seu Inspetor Geral. Chego aos ensaios ainda na fase de leitura de mesa, e deparo com um texto reformulado… Noto várias inserções de textos, que vou sendo informada serem de Pessoa, Guimarães Rosa, Joyce, etc… No cotejo com o original, contudo, vejo que este em nada perdeu. Lá estão a estrutura, o espírito, a crítica corrosiva das instituições numa sociedade solapada pela corrupção… Vou observando como este homem cáustico, o frasista temível, opera o seu métier. (…) Encontro um homem delicado, porém firme, chamando a todos por carinhosos diminutivos… Vou conviver, durante dois meses, com poucas crises, administradas com sabedoria por este homem que consegue ser paradoxalmente sarcástico e carinhoso. Vejo-o construir e destruir cenas e marcações, alterar textos, acrescentar e suprimir falas. Vou vendo erigir-se uma construção ensandecida em suas dimensões grandiosas. (…) Vejo erguer-se uma encenação moderna. Que se aproveita da experiência dos antecessores, que valoriza tanto a visualidade quanto a palavra, num sábio equilíbrio… Quem é esse diretor? Veja o espetáculo. Entenda o desabrido temperamento do Abu, compreenda como a arte pode ser anárquica e revolucionária”.

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