Cinema Latino

domingo, 2 de setembro de 2012

Leitura da semana que passou

Hoje pretendia escrever alguma coisa sobre a atriz espanhola Chus Lampreave, mas não deu exatamente para escrever algo que me vinha à mente e/ou baseado em leituras, porque perdi um livro fundamental à minha informação: "Conversas com Almodóvar". E só me dei conta que o havia perdido no fim da tarde, saí com ele para ficar na sala de espera da clínica enquanto não era atendida, dali fui para outro lugar, devo ter esquecido num canto. Quase choro, pois estava na metade. Droga! Mas enfim, fiquei fascinada com o carinho de Pedro Almodóvar com essa atriz, lembro que na página 60 ele expressa sobre o que é trabalhar com ela. Na verdade, indico este livro a todos os interessados e fãs da obra do cineasta espanhol, Pedro Almodóvar. Achei aqui a página da Revista Isto é, muito interessante:

Rerato de Almodóvar

Manias, brigas e caprichos - nada fica de fora do livro de entrevistas com o cineasta espanhol

IVAN CLAUDIO
i53400.jpgO cineasta espanhol Pedro Almodóvar é um homem, no mínimo, excêntrico, angustiado e dono de diversas manias. Arrisca- se esse palpite ao se ler Conversas com Almodóvar (Jorge Zahar Editor, 312 páginas, R$ 44,90), famoso livro do crítico de cinema francês Frédéric Strauss que reúne entrevistas feitas ao longo de 13 anos com o diretor de Tudo sobre a minha mãe e Carne trêmula. Ao comentar o uso freqüente de quadros e quadrados no filme Kika, por exemplo, Almodóvar diz que tal escolha se deve à sua mania por simetria: "As coisas assimétricas me irritam. É por isso que, quando compro qualquer coisa, é sempre aos pares." A afirmação surpreende partindo de um cineasta que fez fama justamente pelos enredos mais caóticos e descabelados. E, como Almodóvar consegue surpreender a cada resposta, esse é um daqueles livros que não se largam com facilidade. É um retrato do entrevistado.
Ao explicar o colorido extravagante de seus cenários, ele desmonta a teoria fácil de que essa seria uma característica da cultura espanhola, barroca em sua essência: "A vitalidade das minhas cores é uma forma de lutar contra a austeridade das minhas origens. Minha mãe se vestiu de negro durante quase toda a sua vida." Nascido na região de La Mancha, Almodóvar decidiu fazer filmes quando foi morar em Madri, na década de 70, época em que trabalhava na área administrativa da companhia telefônica. O ditador Francisco Franco havia morrido. Eram anos de liberação e ele tornou-se um dos protagonistas da chamada Movida Madrilenha, movimento de renovação das artes que revelou uma geração anárquica de artistas. Almodóvar rodava filmes no formato amador super 8 e, como não gravava o som, dublava ao vivo todos os personagens. Um verdadeiro happening. Ao passar para as produções mais profissionais, descobriu o ator Antonio Banderas, que alçou ao estrelato em filmes como Matador, A lei do desejo e Áta-me: "Antonio acabara de chegar de Málaga e fazia figuração numa peça de teatro. Vi-o, fiz um teste com ele e compreendi imediatamente que iria se tornar um astro de cinema."
Diretor diz que se sente possuído pelos papéis e gostaria de interpretar todos eles
Nesse período, Almodóvar teve sucessivos encontros com o artista plástico americano Andy Warhol em festas da efervescente noite madrilenha. "Eu sempre era anunciado como o Warhol espanhol. Depois da quinta ou sexta vez, ele acabou por me perguntar por quê. Eu lhe disse que era, sem dúvida, por haver muitos travestis em meus filmes", conta, bem-humorado. Além das "chicas de Almodóvar", como eram chamadas as engraçadas atrizes Carmen Maura e Rossy de Palma, alguns transexuais ficaram famosos nos primeiros trabalhos do espanhol. Mais recentemente, ao retomar esses personagens, ele teve uma grande dor de cabeça, como revela a Frédéric Strauss no capítulo sobre o filme Má educação. É que o ator mexicano Gael García Bernal, o protagonista da história, não conseguia vestir-se de mulher para encarnar o personagem Sahara. "Bastava ele ver um sapato de salto para entrar num estado de bloqueio total", diz Almodóvar. As filmagens foram paralisadas e só continuaram depois de o ator passar por sessões de psicanálise.
Além de detalhar o processo de criação de todos os seus longa-metragens, em suas entrevistas Almodóvar avança no terreno pessoal e, às vezes, comporta- se como se estivesse também em um divã. Sempre visto como um grande diretor de mulheres, ele atribui a sua intimidade com as personagens femininas ao fato de ter passado a infância escutando histórias contadas por sua mãe e pelas vizinhas interioranas. "Foi nessa época que ouvi casos de fantasmas, de mortos que assombram os vivos. Isso foi para mim a própria origem da ficção." No seu caso, a ficção mostra- se tão imaginativa que conquistou até o mestre americano Billy Wilder, de O crepúsculo dos deuses, uma de suas grandes influências. Depois de assistir à comédia Mulheres à beira de um ataque de nervos, Wilder fez propaganda na Academia de Hollywood para que os votantes escolhessem o longa para o Oscar de melhor filme em língua estrangeira, o que não aconteceu. E o aconselhou: "Jamais caia na tentação de fazer um filme em Hollywood." Almodóvar seguiu o conselho e vai muito bem, obrigado. Em relação ao Oscar, ele só o ganharia em 2003, com o filme Fale com ela. Mas como melhor diretor.
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