Leandra Leal fala de seu melhor papel
Para viver a médica residente Carmem, protagonista de “Estamos
Juntos”, novo filme de Toni Venturi, a atriz Leandra Leal passou algumas
semanas no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo. Lá,
pôde conhecer a rotina e a vida de médicos e enfermeiros e garante que
foi uma experiência marcante. “Foi incrível, deu humanidade à Carmem. No
hospital, as pessoas têm uma rotina exaustiva e apaixonante, é uma
realidade que suga e ao mesmo tempo alimenta muito”.
Na história, Leandra interpreta Carmem, uma médica residente que tem
sua vida alterada ao descobrir que pode estar gravemente doente.
Sua participação no longa foi tão intensa que o diretor a convidou
para também atuar na produção, interferindo no roteiro com novas
propostas e ideias.
“Foi um filme que me consumiu muito, pelo volume e pela
responsabilidade. Quando eu voltava para casa, pensava o que ia fazer no
dia seguinte”, disse a atriz, que por sua entrega foi premiada no
recente festival Cine-PE. Confira o resto da entrevista.
Você participou de vivências nos ambientes onde se passa a história. Fale um pouco dessa experiência.
Com o Movimento dos Sem-Teto do Centro (MSTC) eu não tive tanto
contato, apenas na época das filmagens e foram bem intensas, porque a
personagem era estranha àquilo tudo. Quando a equipe foi lá antes da
filmagem, eu não quis ir junto porque seria legal aproveitar o impacto
pessoal. No hospital foi incrível, apaixonante. Deu humanidade à Carmem,
alguém que é autossuficiente, fechada e órfã. No hospital, as pessoas
têm uma rotina exaustiva e apaixonante, e é difícil se relacionar com
outras pessoas que não sejam daquele ambiente. É uma realidade que suga e
ao mesmo tempo alimenta muito.
Sua personagem passa por um momento muito dramático. Isso chega a afetar psicologicamente o intérprete?
Não tenho nada disso, afeta numa questão mais racional, mesmo, porque
eu passo o tempo inteiro pensando sobre o trabalho. Esse filme me
consumiu muito, ser protagonista de um filme te consome muito, pelo
volume e pela responsabilidade. Quando eu voltava para casa, pensava o
que ia fazer no dia seguinte, então desta forma esse estado fica em você
numa relação objetiva, mas não de ser e viver o personagem.
Psicologicamente pode até afetar, mas no sentido de entender outros
aspectos do ser humano. A Carmem passa por uma sensação que nunca passei
e espero nunca passar. A questão da Carmem não é só a doença, mas a
descoberta de que a vida não é eterna, algo que a afeta profundamente. E
que você não é o senhor de seu destino, por mais que você pense, a vida
acontece.
O que aprendeu com o filme?
O MSTC foi uma descoberta. Eu já conhecia o movimento, mas eu nunca
tinha visto de perto. Qualquer movimento que esbarra na palavra
propriedade será criminalizado e sofre com o pouco envolvimento da
sociedade e da pouca cobertura da imprensa. Cara, eu vi no MSTC o quanto
é fácil alguém vir para São Paulo e acabar morando na rua. A maioria
dos casos é de pessoas que vieram do interior com o contato de um único
amigo que já veio antes, então arranja um emprego, aluga um quarto e tem
um salário que só dá para pagar o aluguel. Se ele ficar desempregado e
se não arrumar outro em seguida, não paga o aluguel e é despejado. Sem o
CEP, não arruma emprego e acabou, vai morar embaixo da ponte. Quando
estávamos fazendo o filme, houve uma desapropriação em uma favela na
Zona Sul de São Paulo e foram 2 mil famílias para a rua. Eu não consegui
acreditar, eram quase 10 mil pessoas. E a cidade não fala nada, isso
não é possível, é muita gente.
Além de muito talentosa essa menina pe lindissima. A história do filme parece ser bem comovente e qiestão da fragilidade de nossas vidas é assustadora.
ResponderExcluirMuito boa entrevista. Acho a Leandra uma das nossas melhores atrizes.
ResponderExcluirO Falcão Maltês