Cinema Latino

sábado, 27 de março de 2010

Uma leitura recomendada: "Carmen" de Ruy Castro


Livro: Carmen – A vida de Carmen Miranda, a brasileira mais famosa do século XX.

Eu sempre gostei da Carmen Miranda. Desde a minha infância anos 80. Claro, nunca jamais em tempo algum pertenci ao seu universo e ao seu tempo. Perguntava sempre aos meus pais por ela, mas tampouco eles sabiam me dizer algo. Mas sempre tive curiosidade sobre aquela mulher de sorriso aberto, de alegria escancarada no rosto e de carismáticos requebros. Uma das coisas que mais me fascinavam era que eu e ela tínhamos o mesmo sobrenome, embora não tivéssemos nem de longe nenhum parentesco, tampouco nenhuma semelhança que nos ligasse. Sempre soube que ela era um dos maiores nomes da nossa música e o básico dos básicos sobre ela: que a Carmen era portuguesa de nascimento, chegou muito criancinha ao Brasil, gravou “Taí”, se vestia de baiana estilizada, trabalhou na rádio Mayrink Veiga, foi aos States com o seu trabalho, se casou com um gringo e morreu do coração. Quanto às causas do ataque cardíaco eu sabia mais ou menos naquela época, “ah era a quantidade de remédios que tomava para isso, ou aquilo: dormir, acordar, etc”. Eu sabia só isso quando eu era criança. Nunca entendi de fato porque a pessoa dela me atraía. Acho que era a sua alegria contagiante, a música identidade nacional ou o seu eterno amor pelo Brasil.



Carmen Miranda e sua vestimenta de baiana



Uma de suas últimas fotos (aos 45 anos)


Os belos olhos verdes e o sorriso que cativava.



A cantora do rádio





Amores: Carlos Alberto em dedicatória sentimental




Os pais de Carmen




As adoráveis irmãs Miranda: Carmen e Aurora





Carmen Miranda e seu namoradinho de adolescência, Mario Cunha




O tempo passou, fiz muitas coisas na vida, fui para a faculdade coisa e tal. Mas este mito era algo que um dia eu teria muito mais tempo de decifrar, entender, admirar. Eis que um dia vi esta biografia de Ruy Castro na prateleira de uma livraria. Lembro-me que quando a comprei estendi o presente para uma grande amiga minha, a Carla Marinho que escreve o blog Purviance. Então eram dois livros: um meu e o outro para a Carla. Sempre gosto de frisar que se alguém gosta do Brasil, da cultura brasileira, ama o cinema e Carmen Miranda, este é um livro indispensável na sua estante.
Essa leitura não era uma mera curiosidade. Os detalhes da vida de Carmen nesta obra são muito bem abordados. O contexto histórico sócio-político daqueles tempos não foram esquecidos, os compositores da época, a família, os amigos, como era a carreira da Carmen Miranda no Brasil, o Riode Janeiro da Cinelândia e dos Cassinos e como foi o seu ingresso aos Estados Unidos. Há capítulos que comovem e como não esquecer que sua vida era muito mais o trabalho, principalmente quando mudou para os Estados Unidos e se tornou milionária estrela de cinema. E lá foi bastante explorada até o fim de sua curta vida. Mario Cunha, o primeiro namorado de Carmen viveu até os 95 anos e quase alcançou a celebração do Centenário Carmen Miranda (que foi ano passado). Aurora Miranda contribuiu bastante para a biografia, ainda bem. No dia 22 de Dezembro de 2005 ela nos deixava. Ruy Castro escreveu esta biografia em um estilo bastante pessoal, com muita seriedade e competência. É um livro indispensável a todos os fãs de Carmen, aqueles que são fascinados por biografias, professores de história e um público que ama e respeita seu patrimônio nacional.
Depois de lê-lo, tive muito mais respeito pela trajetória de Carmen Miranda, pela mulher que era leal e generosa para com seus amigos, pela sua beleza de espírito e atitudes. Fiquei mais encantada com sua rica indumentária, com a Carmen que falava um bom inglês a que os estúdios teimavam em estigmatizá-la como a estrangeira que errava pronúncia para fazer a graça “da comediante”. Ela seduzia sem fazer esforço, só por ser Carmen todos a amavam, todos queriam estar com ela, rir com ela, beber com ela, ouvir suas músicas, rir de suas graças, compartilhar seu imenso carinho pelo seu povo brasileiro em sua residência em Beverlly Hills, levar aqueles abraços malucos, compartilhar aquelas beijocas fora de hora. Carmen era moderna, desde adolescente. Dá para imaginar aquelas adolescentes dos tempos antigos com mania de fotografia? Era ela, só faltava a máquina digital e Orkut! O seu “It” não se resumia na personalidade desinibida. Uns diziam até que se não fosse alguém de tanto sucesso no Brasil e Estados Unidos no ramo da música e do cinema ela seria uma estilista também de imenso prestígio. Carmen viu sua alegria se reduzir com as crises depressivas provocadas pelos barbitúricos, sofreu horrores com os choques elétricos recomendados pela medicina de seu tempo para curar a dependência química. Muitos queriam ajudá-la, outros como seu marido Dave Sebastian pareciam não se importar com seu sofrimento interior. Mas ela não conseguiu desvencilhar-se a tempo dos problemas que pouco a pouco a consumiam. Seus dias finais são para mim de imensa tristeza.
Dizem que a leitura é uma viagem. Sem dúvida o é. Tive a impressão de viver o passado, de ter acompanhado aquilo tudo e de ver como se fosse um filme que fosse rodado. Ler esta biografia vale muito mais do que um filme. Embora não há séries de TV que façam um resgate tão perfeito como o do texto lido. Claro, não há uma série na TV e nem outra produção brasileira que aborde esta biografia. Fiquemos portanto com “Banana is my business”, o documentário da TV americana, que por sinal é muito curioso e interessante. Quem ama Carmen com livro, com filme, fotos, discos ou sem tudo isso, jamais a esquecerá.

OBSERVAÇÃO: O meu texto é apenas um discurso pessoal. Se alguém deseja ler um resumo bem mais interessante, indico este aqui: 100 anos de Carmen Miranda

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