Cinema Latino

sábado, 11 de julho de 2009

Sobre o cinema espanhol

Eu recebo mensalmente por e-mail a Revista da Livraria Cultura e os artigos são maravilhosos. E este em especial sobre o cinema espanhol deixo publicado aqui neste espaço:

"Além de Almodóvar"
Desde o fulminante sucesso de Mulheres à beira de um ataque de nervos (1988), Pedro Almodóvar tornou-se sinônimo de cinema espanhol para espectadores de todo o planeta. Ícone da tela grande ao lado de Bigas Luna da “Movida” Madrilenha - um dos principais movimentos de renovação cultural dos anos 1980 –, Almodóvar conquistou um raro status dentro e fora de seu país. Lançado com pompa na Cidade do Cinema, complexo da indústria do audiovisual nos arredores de Madri, Los abrazos rotos, a mais recente produção do diretor, estrelada por Penélope Cruz, foi recebida com frieza pela imprensa e tampouco lotou as salas de exibição espanholas, como aconteceu com Volver,o filme nacional mais assistido de 2007.
Criticado pela repetição de fórmulas em seu último filme, o longo reinado de Almodóvar, precedido por Carlos Saura e muito antes por Luis Buñuel, lança dúvidas sobre o futuro do cinema espanhol. Há ou não uma nova safra de diretores em ascensão no país? “O fato é que vivemos um momento de crise criativa em nosso cinema”,assinala o crítico de cinema Eduardo Moyano, ex-diretor da Rádio Exterior de Espanha.
Um sintoma desse fenômeno pode ser sentido na bilheteria. As três produções com dinheiro espanhol de maior sucesso do ano passado são faladas em inglês e, com exceção de Os crimes de Oxford, de Alex de la Iglesia, as demais são obras de diretores norte-americanos: Vicky, Cristina, Barcelona (WoodyAllen) e Che, el argentino (Steven Soderbergh).
De fato, nos últimos anos, os diretores de maior projeção no exterior têm optado por um modelo de cinema mais “holywoodiano”. De la Iglesia, famoso por blockbusters como El día de la bestia (1995) e La comunidad (2000), trabalha agora em La marca amarilla, uma adaptação dos quadrinhos estreladapelo inglês Keneth Branagh. A grande revelação dos últimos tempos, Alejandro Almenábar (Oscar de filme estrangeiro em2004 por Mar adentro e autor de Os outros,com Nicole Kidman, de 2002), tambémabraçou as produções multinacionais. Estreiaem outubro, na Espanha, seu próximo filmeÁgora, rodado na ilha de Malta com inspiraçãono mundo grego antigo. Os atores mais populares da atualidade, Penélope Cruz e Javier Bardem, também passam mais tempo em Los Angeles que na própria Espanha. “Fazer filmes em outros países tem seu lado positivo, mas, com isso, acabamos perdendo a pópria identidade”, lamenta Moyano.
REVELAÇÕES
Seria injustiça, no entanto, não reconhecer o surgimento de um novo grupo de realizadores de boa qualidade. Um dos autores mais premiados na Espanha, atualmente, é Jaime Rosales, aclamado em Cannes em 2007 por Las horas del día e vencedor do Goya – o Oscar espanhol– de Melhor Direção por La soledad (2007). No ano passado, provocou polêmica no Festival de San Sebastián com Tiro en la cabeza, retratando os bastidores do terrorismo no País Basco. Este ano, Rosales está de volta às telas como produtor do drama existencialista: A árvore, de Carlos Serrano Azcona.
Entre as novas caras do cine espanhol, destaca-se também Isabel Coixet, com os elogiados Mi vida sin mí (2003) e La vida secreta de las palabras (2005). A diretora estreia em agosto El mapa de los sonidos de Toquio, rodado no Japão. Outro autor que vem ganhando projeção é Chus Gutiérrez, atualmente em cartaz com Retorno a Hansala, que retrata o drama dos imigrantes africanos arriscando a vida para desembarcar ilegalmente na costa espanhola. Ainda na lista de revelações, está outro filme de caráter social: El truco del manco. O filme, que conta a história do rapper deficiente físico El Langui, rendeu a Santiago Zannou o Goya de melhor diretor estreante.
Representando o establishment da indústria cinematográfica, o Goya, este ano, apostou todas as suas fichas em Camino, merecedor deseis estatuetas, entre elas a de Melhor Filme e Direção para Javier Fesser. Destinado ao grande público e abusando um pouco do dramalhão, o filme tem o mérito de abordar um tema sensível à sociedade espanhola: os bastidores da Opus Dei, o que certamente atrairá espectadores no exterior. A aclamação de Camino acabou ofuscando uma das melhores produções recentes, Los girasoles ciegos, do veterano diretor José Luis Cuerda – ambientado durante a guerra civil espanhola –, que promete agradar à audiência internacional mais sofisticada.
Na encruzilhada entre Hollywood e o cinema de autor, a Espanha busca um novo modelo enquanto vê o público minguar ano a ano nas salas de exibição. Moyano acredita que alguns gêneros, como o de terror fantástico, têm potencial para atrair o público jovem, a exemplo de sucessos como Orfanato (José Antonio Bayona, 2007), REC (Jaume Balagueró e Paco Plaza, 2008), ou La casa de Fermat, (lançado neste ano pelosña).
Depois de muita experimentação, Almodóvard efiniu seu próprio destino autoral no lançamento de Los abrazos rotos: “Quero me dedicar cada vez mais a um gênero que foi muito distorcido pela televisão e que merece uma abordagem mais contemporânea no cinema: o melodrama”. Mais espanhol, impossível.


INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA ARRECADA POUCO

Seguindo o modelo europeu, o cinema espanhol sobrevive à base de forte subvenção estatal, o que permitiu aumento importante no volume de produções nos últimos anos. Mas, assim como no Brasil – onde o apoio se dá mais por políticas de isenção fiscal –, problemas de distribuição e falta de sintonia com a audiência criam uma enorme distância entre o que se gasta e o que a indústria arrecada.
De acordo com dados do Ministério da Cultura da Espanha, os 99 filmes lançados no ano passado tiveram investimento totalde R$ 729 milhões – R$ 247 milhões financiados diretamente pelo estado – enquanto a bilheteria ficou abaixo dos R$ 280 milhões. Comenta-se que o cinema espanhol é dominado por cerca de 30 famílias, que dispõem da fatia mais gordados recursos. Em contrapartida, o dinheiro para revelar novos diretores se limita a R$28 milhões anuais. Para o crítico Eduardo Moyano, fazer o primeiro filme não é o maior problema. “Com dificuldades de distribuição e divulgação, muitos diretores não conseguem uma segunda chance.”
Fabia Buenaventura, diretora geral da Federação Espanhola de Produtores, defende a concentração ainda maior do investimento. “Deveríamos apostar nas grandes produções em vez de seguir com essa política de café para todos”, afirma. Para quem está começando, chegar até o dinheiro é tarefa árdua. Formado pela Universidade de Cinema e Televisão de Munique, o jovem realizador Raul San Miguel lamenta que, sem boas conexões no meio, as chances de conseguir verba de produção são pequenas. Ele busca financiamento para seu primeiro longa, sobreu ma imigrante equatoriana em Madri. “Acredito que terei mais sucesso buscando recursos na Alemanha.”

Um comentário:

  1. A respeito dessa frieza da crítica em relação ao último Almodóvar, fiquei aqui pensando se ele não está começando a "negar fogo". Já "Volver" não foi tão bom como outros do cineasta. Seu último grande filme foi "Fale com Ela". Sempre que o revejo (e o revi sábado passado), cada vez gosto mais dele. Espero que seja apenas uma passageira crise de criatividade. Um beijo.

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